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Morre Heloisa Teixeira, uma das principais vozes do feminismo

28 de março de 2025 - Por Comunità Italiana
Morre Heloisa Teixeira, uma das principais vozes do feminismo

A pesquisadora, escritora e crítica cultural paulista foi a 10ª mulher eleita imortal da Academia Brasileira de Letras, onde ocupava a cadeira 30 desde 2023.

Heloisa Teixeira, escritora e crítica cultural, morreu aos 85 anos nesta sexta-feira (28/3), no Rio de Janeiro, por complicações de uma pneumonia e insuficiência respiratória aguda. A escritora estava internada na Casa de Saúde São Vicente, na Gávea. A informação foi confirmada pela Academia Brasileira de Letras (ABL).

Professora emérita da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) , Heloisa publicou dezenas de obras ao longo de sua trajetória como pesquisadora, escritora e crítica cultural.

Nascida em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, formou-se em Letras Clássicas pela PUC-Rio, com mestrado e doutorado em Literatura Brasileira na UFRJ e pós-doutorado em Sociologia da Cultura na Universidade Columbia, em Nova York. Como acadêmica, definiu um campo de pesquisa que privilegia a relação entre cultura e desenvolvimento, segmento em que se tornou referência, dedicando-se às áreas de poesia, relações de gênero e étnicas, culturas marginalizadas e cultura digital.

Até 2023, assinava como Heloísa Buarque de Hollanda, usando o sobrenome do ex-marido, o advogado e galerista Luiz Buarque de Hollanda, tio avô de Chico Buarque, morto há mais de duas décadas. Foi também casada com o fotógrafo João Carlos Horta, com quem permaneceu por mais de 50 anos até a morte dele, em 2020. Heloisa resolveu deixar o sobrenome do primeiro marido e escolheu, então, assinar como Teixeira – sobrenome da mãe.

Heloisa deixa os filhos André, Pedro e Luiz, conhecido como Lula, do casamento com Buarque de Hollanda. Entusiasta da cultura marginal e periférica Heloisa foi a 10ª mulher eleita imortal da ABL, em abril de 2023, ocupando a cadeira 30, antes pertencente à escritora Nélida Piñon. Tomou posse com o novo nome.

Entre os livros que publicou, destaca-se a histórica coletânea 26 Poetas Hoje, de 1976. A antologia revelou uma geração da poesia marginal que entrou para a história da literatura brasileira, como Ana Cristina Cesar, Cacaso e Chacal. Segundo a autora, o livro, publicado em plena ditadura militar, causou furor na época.

Quatro décadas mais tarde, em 2021, lançou a versão As 29 Poetas Hoje. Incluindo o artigo feminino plural no título, Heloisa compilou textos de autoras contemporâneas, vozes de uma geração que falam sobre identidade, sexo, amor, fúria, política e o Brasil atual.

Nos últimos anos, vinha trabalhando com o foco na cultura produzida nas periferias das grandes cidades, no feminismo, bem como no impacto das novas tecnologias digitais e da internet na produção e no consumo culturais. Em 2024, lançou Rebeldes e Marginais: Cultura nos Anos de Chumbo (1960-1970), assinando pela primeira vez como Heloisa Teixeira.

Em entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2019, Heloisa falou sobre o momento de redescoberta do feminismo pelas jovens mulheres. “Todo mundo achou que ia acabar quando a gente morresse, e então tivemos esse susto fantástico, que é toda uma geração botando para quebrar”, disse a pesquisadora. Diante do fenômeno, publicou Explosão feminista: Arte, cultura, política e universidade, em que tece um panorama da quarta onda feminista no Brasil desde de 2013.

Para ela, as novas ativistas “sabem o que querem, vão à luta, têm elementos e hormônios, mas têm carência de repertório”. Por isso decidiu organizar um livro que funcionasse como uma espécie de curso, e acabou lançando a coleção Pensamento Feminista, publicada pela Bazar do Tempo. Em Pensamento Feminista – Conceitos Fundamentais, por exemplo, reuniu textos de 13 autoras, entre as quais Judith Butler, Audre Lorde, Donna Haraway, Nancy Fraser, Lélia Gonzales, Sueli Carneiro e Paul B. Preciado.

“Eu vi os Beatles aparecendo, estudava em Harvard quando Kennedy morreu, acompanhei a Guerra do Vietnã. Foi tudo muito intenso, e ainda vieram os 1970, os 1980. Minha geração foi muito privilegiada e chego até aqui para ver essas meninas fazendo o que sonhei… Esses 80 anos foram um privilégio. Não sei se os próximos anos serão tão bons. Ainda não falta água nem luz, mas as tragédias estão apenas começando”, disse Heloisa ao Estadão.

(com dados do Estadão e Carta Capital)

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