Tradição dos presépios movimenta final de ano da Itália

Como manda a tradição, o fim de ano é a época dos presépios natalinos. A encenação do nascimento de Jesus Cristo é bastante comum em países católicos, especialmente na Itália, berço desse costume.
O rito surgiu na cidade de Greccio, na região do Lazio, em 1223, quando São Francisco de Assis representou a natividade em um pequeno bosque da região. Até hoje, o vilarejo abriga encenações teatrais e “presépios vivos” na época do Natal.
No entanto, apesar de a tradição ter nascido no Lazio, é a cidade de Nápoles que carrega fama mundial por esse costume.
Essa herança é tão grande que a capital da Campânia abriga uma rua dedicada a lojas de itens para presépios, a via San Gregorio Armeno, e trabalha para tentar inaugurar futuramente um museu permanente sobre o tema.
Rosario Bianco, professor da Universidade Pegaso e membro do Conselho Administrativo da Fundação Sant’Alfonso Maria dei Liguori – Museu Permanente dos Presépios de Nápoles, afirmou que as reproduções são mais que uma tradição na cidade e representam sua “arte, história e espiritualidade”.
“O presépio está em Nápoles assim como Nápoles está no presépio”, destacou Bianco. Segundo ele, as encenações napolitanas atraem milhares de turistas ao longo do ano, principalmente na via San Gregorio Armeno, que vive clima de Natal de janeiro a dezembro.
“O turismo ligado ao presépio é muito importante para a cidade, não apenas pela atividade econômica que ele gera, mas porque difunde uma imagem da verdadeira Nápoles. Os turistas ficam encantados com os presépios”, disse o professor.
Todos os anos, artesãos napolitanos criam figuras em homenagem a personalidades importantes, como políticos, músicos e esportistas, e as colocam nos presépios da cidade. “É curioso como esses personagens estão ao lado de pastores ou figuras históricas e lendárias. Acho que é uma maneira de a cidade homenagear figuras que têm um significado importante no imaginário coletivo, ou expressar aquela veia satírica que sempre caracterizou esse povo”, contou Bianco.
Exposição
Mas Nápoles não está sozinha nessa tradição. Na região do Piemonte, norte da Itália, 10 municípios da província de Asti, como Albugnano, Aramengo e Cocconato, se reúnem anualmente para organizar uma exposição de presépios.
Chamado “Ouro, Incenso e Mirra”, o evento vai para sua quarta edição e ficará aberto ao público entre 8 de dezembro e 6 de janeiro. Em entrevista à agência de notícias italiana, Silvia Colpani, presidente da associação Ouro, Incenso e Mirra – Presépios no Monferrato, contou que as diferenças entre as montagens piemontesas e napolitanas estão na ambientação, nos figurinos e nos personagens.
“Muitas vezes o presépio napolitano se desenvolve para cima; entre os materiais mais usados está a cortiça, e a maior parte dos personagens remete ao estilo do século 18, com roupas de época. Os piemonteses normalmente reproduzem ambientes rurais, com trajes de camponeses”, explicou Colpani.
Na edição do ano passado, o evento atraiu mais de 10 mil visitantes, em uma época de baixa temporada para a região, que costuma receber mais turistas no verão europeu. “Reunimos energias, recursos e a criatividade de 10 municípios de Asti para descobrir uma nova face do território: a beleza do Natal nas aldeias que pontilham as colinas e o calor de nossas pequenas comunidades”, destacou.
Outra localidade famosa pelos presépios é Ossana, no sopé da cordilheira das Dolomitas. O município é popularmente conhecido por ter mais presépios do que moradores, em uma tradição que já dura vários séculos.
“A tradição está disseminada em nossa comunidade há séculos. A cidade tem 850 habitantes, e agora chegamos a 1,6 mil presépios. Esperamos que, com a ajuda de todos, exceda 2,15 mil, o que seria um recorde mundial”, disse o prefeito Luciano Dell’Eva, em entrevista à agência de notícias italiana.
Além de Asti, Nápoles e Ossana, outras cidades que encampam essa tradição são Cesenatico, na Emilia-Romagna, que monta seu presépio em barcos; e Laveno-Mombello, na Lombardia, com seu presépio embaixo da água, no qual a encenação do nascimento de Cristo fica dentro do Lago Maggiore, mas visível da superfície. (Ansa)