Presidente e Premiê da Itália cobram solução conjunta da UE sobre crise de migrantes

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, pediu no sábado (3) para a União Europeia (UE) encontrar uma solução conjunta, incluindo uma estreita cooperação com os países de origem de refugiados, para conter a crise migratória. Já o presidente da Itália, Sergio Mattarella, participou na última sexta-feira (2) de um evento em Roma com expoentes da região do Mediterrâneo e defendeu que a União Europeia deve ter uma gestão conjunta sobre as migrações.
“Precisamos de mais Europa na frente sul, sozinhos não conseguimos gerir um fluxo de dimensões incontroláveis”, declarou a premiê italiano em discurso na “Roma Med -Mediterranean Dialogues”.
Meloni enfatizou que “a Europa precisa criar urgentemente um quadro de cooperação multilateral, com uma luta incisiva contra os fluxos ilegais”.
Segundo ela, “um elemento indispensável é a europeização da gestão do repatriamento”. “Pedimos à União Europeia que reinicie a cooperação em matéria de política migratória com os seus parceiros na África e no Mediterrâneo, que precisam se envolver mais na luta contra o tráfico de seres humanos”, acrescentou.
A premiê explicou ainda que a plena estabilização da Líbia é uma das prioridades mais urgentes da política externa, também pelo impacto na migração, além de ressaltar que o governo da “Itália está fortemente comprometido” “em fortalecer seu papel no Mediterrâneo”.
“Estamos cientes de que somente criando um espaço de prosperidade compartilhada poderemos superar efetivamente muitos desafios de época – da saúde às mudanças climáticas”, declarou.
De acordo com Meloni, “uma sólida geopolítica de diálogo só pode ser construída e consolidada na área a partir da consciência de nossas identidades e valores culturais, da constatação de que nossa prosperidade não é possível se não houver também a de nossos vizinhos”.
“A Itália está promovendo um plano para a África, uma abordagem que não tem uma postura predatória, mas colaborativa, respeitosa dos interesses mútuos, baseada em um desenvolvimento que sabe potencializar a identidade de cada um”.
Por fim, Meloni alertou que “muitas das políticas europeias correm o risco de ficar incompletas se não forem colocadas numa dimensão mediterrânica mais ampla”.
O ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, também enfatizou que o governo já está trabalhando “em conjunto com os ministros do Interior e da Agricultura nos decretos de fluxos para ter um caminho estratégico”.
Na última quarta-feira (30), Tajani visitou o aeroporto de Fiumicino, em Roma, para acolher 114 refugiados de campos de detenção na Líbia, graças ao sistema de corredores humanitários e evacuação.
“Tenho certeza de que na Itália vocês se sentirão em casa”, disse o chanceler italiano, lembrando que o país “tem uma tradição antiga de hospitalidade”.
“As pessoas que vêm morar conosco devem ser devidamente integradas. Este é um projeto piloto. A Itália é o único país que organiza corredores humanitários. É uma forma clara de dizer não aos traficantes de seres humanos”, acrescentou.
De acordo com Tajani, o governo italiano defende “uma rota regular e controlada para os migrantes, que não conduza a condições incômodas, mas a uma forma de integração na Itália”.
“Esta é a política que queremos seguir unida à ação que queremos realizar no continente africano e também no Oriente Médio para que haja paz, para que se vença a fome, para que acabem as guerras, para que acabe o terrorismo”, enfatizou.
O ministro italiano ressaltou ainda que “quem quiser ficar e morar onde nasceu deve ter o direito de poder fazê-lo e não ser forçado a fugir”. “Ao recebê-los hoje, queremos enviar uma mensagem de paz e prosperidade para suas famílias que estão na África, no Oriente Médio”, concluiu.
Originalmente de alguns países africanos e da Síria, os refugiados serão distribuídos e hospedados em várias regiões italianas.
Mattarella cobra gestão conjunta da UE
Já na sexta-feira passada, o presidente da Itália participou do evento em Roma com expoentes da região do Mediterrâneo e também defendeu que a União Europeia deve ter uma gestão conjunta sobre as migrações.
A região é uma das que mais recebe deslocados internacionais, que se arriscam em perigosas travessias, e também uma das que mais registra mortes de migrantes anualmente no mundo.
Segundo Mattarella, a “gestão dos fluxos migratórios é uma questão decisiva e global” e que é uma coisa “inútil pensar que ela possa desaparecer”.
“Diplomacias, organizações nacionais e internacionais – a começar pela União Europeia – são chamadas a um compromisso comum. Estão em jogo a vida, o destino e a dignidade de seres humanos. É uma questão crucial para a estabilidade e a prosperidade da UE e da nossa vizinhança meridional. Todos têm que enfrentar juntos os desafios em um espírito de forte solidariedade”, disse o mandatário durante seu discurso na “Roma Med – Mediterranean Dialogues”.
Mattarella também abordou a questão da guerra da Ucrânia e afirmou que o mundo está “mais uma vez em frente a uma encruzilhada: o que permite o progresso da humanidade? A guerra ou a paz?”.
“Precisamos partir dos princípios criados por base da nossa convivência civil e fundados no quadro das Nações Unidas. Para consolidar o sistema multilateral e torná-lo mais democrático, é preciso fazer referência à igualdade entre os Estados, fugindo novamente de uma polarização a nível internacional e de uma exacerbação da diversidade, certamente existente, que um diálogo eficaz pode contribuir para reduzir”, acrescentou.
Para o chefe de Estado italiano, atualmente, estão sendo acentuadas as “situações de conflito em que a Europa já não é mais ausente, com as circunstâncias trágicas criadas pela inaceitável agressão da Federação Russa à Ucrânia”.
“A guerra ainda agravou problemas existentes e que se tornaram maiores como a pobreza, insegurança alimentar, escassez de recursos energéticos. É urgente encontrar soluções compartilhadas”, acrescentou. (com dados da Ansa)