O cinema mudo se faz novamente presente em sua capital oficial, Pordenone, no noroeste da Itália, com oito dias de projeções que começarão com Mary Pickford e terminarão com um dos mais refinados cineastas europeus, o belga Jacques Feyder.
Organizadas pela Cinemateca de Friuli, uma das cinco cinematecas que a Itália possui, e pelo cineclube Cinemazero, as Jornadas do Cinema Mudo, que em 2008 celebram sua 27º edição, são uma 'criatura' idealizada por Livio Jacob, que continua presidindo o evento desde sua fundação, com a colaboração do crítico e historiador inglês David Robinson.
A manifestação dedica este ano sua atenção aos filmes mudos de Feyder e do cômico norte-americano W.C. Fields, à sofisticada comédia francesa dos anos 20, a muitas vezes ignorada e depreciada produção norte-americana da Costa Leste, a documentários e ao cinema das origens.
Cada filme é acompanhado pelos melhores pianistas do momento (Neil Brand, Philip C. Carli, Gabriel Thibaudeau, etc.), conjuntos de câmara e grandes orquestras. Mas este ano as Jornadas têm um solista excepcional: Michael Nyman, que acompanhará com uma própria versão musical do clássico de Jean Vigo, "À propos de Nice" (1930), e de "Três Canções para Lênin" (1934), de Dziga Vertov.
O evento foi inaugurado com uma cópia nova do que para muitos é o melhor filme de Mary Pickford, "Sparrows" (1926), de William Beaudine, com uma nova partitura de Jeffrey Silverman, e se concluirá no sábado dia 11 com "Les nouveaux messieurs" (1929), com música composta e dirigida por Antonio Coppola.
Da atriz será exibido o curioso "Potselui Mary Pickford", que o diretor soviético Serguei Komarov realizou em 1926 utilizando material documental da visita que ela e seu marido na época, Douglas Fairbanks, fizeram à URSS, justamente um mês depois da estréia nos EUA de "Sparrows", perfeito exemplo de filme 'roubado', realizado usando material pensado para outros filmes.
Fayder estreou no cinema como diretor de cura-metragens de dois rolos para a Gaumont, dos quais sobrevivem apenas quatro, "Des pieds et des mains", "T¿tes de femmes, femmes de t¿te", "Un conseil d'ami" e "La faute d'ortographie", em que já demonstra essa elegância, esse gênio e esse refinamento que serão uma constante em sua obra.
Com ele, as Jornadas apresentam comédias de artesãos coetâneos como Gaston Ravel (que foi quem apoiou Feyder na Gaumont), Raymond Bernard, Pierre Colombier, René Hervil, René Barberis, e Jean Renoir, além de talentos europeus como Ausgusto Genina e Nicolas Rimsky.
Também do cômico W.C. Fields serão vistos todos os filmes mudos, incluindo um raro encontro com David Wark Griffith em "Sallu of the Sawdust", com o qual as Jornadas colocam um ponto final em uma revisão completa da filmografia Griffithiana iniciada dez anos atrás.
Enquanto a maior parte da indústria cinematográfica norte-americana se mudava para Hollywood nos anos 10, um grupo conspícuo de produtores independentes permanecia no berço original do cinema dos EUA, Nova York, com a quase única exceção da Paramount, que tinha seus estúdios em Long Island.
Dessa produção a miúdos esquecida e menosprezada, Pordenone apresenta um seleto número de películas, entre elas três protagonizadas por Marion Davis, amante do magnata da imprensa William Randolph Hearst, imortalizado por Orson Welles em "Cidadão Kane" (1941), que, para ela, se tornou um produtor improvisado.
Finalmente, um descobrimento absoluto: depois que um século se poderá conhecer a obra cinematográfica de animação de um bailarino ruso, Alexander Shirkayev, que utilizava seqüências animadas para elaborar os ballets que protagonizada.
Fonte: Ansa
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