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Partido progressista e coalizão de centro da Itália fecham aliança para eleições de 25 de setembro

03 de agosto de 2022 - Por Comunità Italiana
Partido progressista e coalizão de centro da Itália fecham aliança para eleições de 25 de setembro

O principal partido progressista da Itália fechou na terça-feira (2) um acordo com uma coalizão de centro para tentar fazer frente ao favoritismo da extrema direita nas eleições antecipadas de 25 de setembro. O pacto reúne o social-democrata Partido Democrático (PD), liderado pelo ex-premiê Enrico Letta, e a aliança formada pelas legendas de centro Ação, do ex-ministro do Desenvolvimento Econômico Carlo Calenda, e Mais Europa, da ex-ministra das Relações Exteriores Emma Bonino.

“Estou plena e inteiramente satisfeito. Hoje voltamos ao jogo, não acredito que os italianos estejam dispostos a se submeter a uma proposta que os marginalize na Europa”, declarou Calenda.

Todos as pesquisas colocam o partido de ultradireita e eurocético Irmãos da Itália (FdI), de Giorgia Meloni, e o PD em empate técnico na liderança, em uma faixa entre 20% e 24% da preferência do eleitorado.

No entanto, o FdI integra uma coalizão com a ultranacionalista Liga, de Matteo Salvini, e o moderado Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi. Essa aliança aparece com mais de 40% das intenções de voto e pode até obter maioria absoluta no Parlamento, beneficiando-se de um sistema eleitoral que mistura proporcional com majoritário.

“Estamos sólidos e compactos e vamos vencer as eleições. A partir de hoje, acabaram as discussões”, reforçou Calenda, que hesitava em se aliar ao PD por causa da intenção do partido de incluir na coligação legendas menores de esquerda que fizeram oposição a Mario Draghi e dissidentes do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S).

O acordo prevê que PD e Ação não candidatem “personalidades divisivas” nos colégios majoritários para a Câmara dos Deputados e o Senado, ou seja, naqueles onde apenas o postulante mais votado será eleito.

Esses colégios definirão 37% das vagas na próxima legislatura, enquanto o restante será escolhido por meio do sistema proporcional, com os assentos no Parlamento distribuídos de acordo com o percentual obtido por cada partido.

Dessa forma, a centro-esquerda não vai candidatar nos colégios majoritários os líderes dos partidos da coligação, tampouco dissidentes do M5S e do Força Itália.

“Foi muito mais difícil encontrar um compromisso entre nós, em relação ao que aconteceu na direita, onde Berlusconi e Salvini assinaram uma rendição [a Meloni]”, declarou Letta. “Não é imaginável que o país passe de Draghi para um governo guiado por Meloni”, acrescentou.

O próximo passo do PD é tentar formalizar a aliança com os partidos Esquerda Italiana e Europa Verde, que divergem do discurso liberal de Calenda e, juntos, têm cerca de 4% das intenções de voto, pouco acima da cláusula de barreira de 3%. Já a aliança Ação/Mais Europa aparece com aproximadamente 7%.

M5S continua a ter deserções

Em meio à crise política, o partido Movimento 5 Estrelas (M5S) teve mais duas importantes deserções no último sábado (30): o ex-líder da sigla na Câmara dos Deputados Davide Crippa e o ainda ministro para as Relações com o Parlamento, Federico D’Inca.

Ambos justificaram a saída da sigla antissistema por conta da decisão de tirar o apoio ao premiê Mario Draghi em uma votação de confiança neste mês de julho. O M5S iniciou a crise para derrubar o primeiro-ministro ao boicotar uma votação no Senado sobre um pacote de ajudas às famílias e às empresas e ratificou essa atitude ao optar por se abster na sessão de confiança ao governo.

Depois de mais de 14 anos de ativismo político, me vejo obrigado a deixar o Movimento 5 Estrelas. Para mim, esse é um gesto muito sofrido e muito pensado. Nunca escondi minha divergência de opinião com os líderes do Movimento sobre a gestão da falta de confiança ao governo, que de fato abriu uma crise depois aprofundada pela centro-direita por objetivos eleitorais”, escreveu Crippa em um post nas redes sociais.

“Não compreendo mais o projeto político, muito instável, muito volúvel e frequentemente contraditório, que fez perder de vista o horizonte comum que tinha unido o Movimento”, acrescentou o político ao dizer ainda que “trabalhou até o último minuto para evitar” a queda de Draghi.

Já D’Inca também disse que “refletiu muito” antes de tomar a decisão e afirmou que, após a queda do premiê, “não poderia não mostrar que há insanáveis divergências entre o meu percurso e aquele assumido pelo Movimento 5 Estrelas nas últimas semanas”.

“Expliquei nos locais oportunos e também publicamente os riscos para os quais estávamos expondo o país em caso de um voto de não confiança na relação com o governo Draghi. Uma decisão, a meu ver, irresponsável, que não compartilho e que tentei evitar até o fim”, afirmou ainda.

“Depois de 12 anos, deixo o Movimento 5 Estrelas com profunda tristeza e dor pessoal. As nossas estradas não estão mais sobrepostas, o buraco que foi cavado nesses últimos meses não me permite prosseguir nessa experiência por coerência com as ideias e com os valores que eu levo adiante em nível nacional e local – e que pretendo continuar a apoiar”, disse ainda.

Se mantendo quieto desde que a crise estourou, um dos cofundadores do partido, Beppe Grillo, chamou de “zumbis” os muitos políticos que deixaram a sigla nas últimas semanas.

“Temos pena daqueles de nós que caíram e não resistiram ao contágio. Mas, sobretudo, agradeço quem combateu e ainda combate com a gente. Para alguns, é tempo de fazer isso a nossa força da precariedade porque só assim poderemos vencer contra os zumbis dos quais Roma é escrava. Honro a quem serve com coragem e altruísmo, saúdo quem segue no caminho”, escreveu em seu blog.

Vencedor das eleições em 2018 com cerca de 30% dos votos, o M5S vem perdendo espaço no cenário político italiano desde então.

Segundo as pesquisas de intenções de voto para as eleições de 25 de setembro divulgadas após a queda de Draghi, a sigla antissistema tem entre 9,5% e 11,9% dos votos – sendo apenas a quarta força política do país.

Sistema misto

A busca por uma ampla coalizão é reflexo do sistema eleitoral italiano, que mistura voto proporcional com distrital.

Das 600 vagas na próxima legislatura, 366 (244 na Câmara e 122 no Senado) serão distribuídas por meio de listas fechadas apresentadas pelos partidos, segundo o percentual obtido por cada legenda na eleição.

Outras 222 (148 na Câmara e 74 no Senado) serão definidas por voto distrital: cada coalizão ou partido apresenta um candidato para determinado distrito, e apenas aquele que terminar em primeiro é eleito. As 12 cadeiras restantes (oito na Câmara e quatro no Senado) serão de parlamentares eleitos pelos italianos no exterior.

Dessa forma, partidos que se unirem terão mais chances de vitória nos colégios distritais, onde apenas o candidato mais votado será eleito. “Precisamos construir, sem vetos recíprocos, uma aliança que mantenha o forte empenho europeísta do governo Draghi e que seja capaz de consolidar o crescimento, combater as desigualdades e enfrentar com credibilidade a emergência econômica, social e ambiental”, afirma o PD.

Terceira via”

Já o ex-premiê Matteo Renzi, líder do partido de centro Itália Viva (IV) e dissidente do PD, disse que tem diferenças de “ideias” com sua antiga legenda. “Por isso, trabalhamos em uma terceira via, diferente da direita soberanista e da esquerda dos impostos”, reforçou o ex-primeiro-ministro, que luta para fazer o IV superar a cláusula de barreira de 3%.

“Queremos chegar aos 5%. O verdadeiro voto útil é mandar gente competente para o Parlamento”, acrescentou.

Enquanto isso, a coalizão da direita já começa a pensar em um possível governo. “Berlusconi está refletindo sobre algumas personalidades importantes”, revelou nesta segunda o coordenador nacional do Força Itália, Antonio Tajani.

Recentemente, a aliança chegou a um acordo para dar ao partido mais votado da coligação a prerrogativa de indicar o próximo premiê, papel que hoje caberia ao Irmãos da Itália, de Meloni. (com dados da Ansa)

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.

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