Mutações são esperadas em qualquer vírus. As mudanças ocorridas no Reino Unido preocupa, contudo, pela quantidade de mutações encontradas na variedade do coronavírus que circula pelo país
O novo coronavírus passou por centenas de mutações desde que as primeiras infecções foram descobertas em Wuhan, na China, no final de 2019. A última mutação identificada ocorreu no Reino Unido, na semana passada.
Mudanças são esperadas em qualquer vírus, explica a médica imunologista e professora da Faculdade de Medicina da USP, Ester Sabino.
“É tudo o mesmo vírus que se originou da China. Com o tempo, como qualquer ser vivo, vão sendo adquiridas mutações. E são formadas novos subgrupos”, explica Sabino.
O que preocupa os cientistas nesta nova mudança no vírus, contudo, foi a quantidade de mutações encontradas na variedade do coronavírus que circula pelo Reino Unido.
“Essa linhagem [que circula no Reino Unido], que é chamada B117, tem 23 variações. Ela deu um salto muito grande em relação a variante anterior. E tem um problema que algumas dessas mutações são exatamente na região de ligação do vírus com o receptor da célula, receptor é o lugar onde o vírus entra na corpo humano”, aponta Sabino, explicando que a mutação nestas regiões do vírus podem turbinar a transmissão da Covid-19.
No sábado (19) o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que a nova mutação de coronavírus localizado no Reino Unido pode ser até 70% mais transmissível, segundo análise preliminar.,
Para a microbiologista da USP, Natalia Pasternak, ainda não há dados e evidências que mostrem que a nova mutação do coronavírus encontrada no Reino Unido é mais contagiosa e mortal.
“Precisa se estudado. Não é porque apareceu uma mutação ali que automaticamente o vírus se torna mais contagioso ou mais perigoso”, diz Parternak.
Quanto às vacinas em testes contra o coronavírus, o virologista e professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Maurício Nogueira, explica que é pouco provável que a nova variedade irá afetar a eficácia dos imunizantes em produção.
“Essas mutações são em ponto específicos, e as vacinas tendem a ter ação contra diversas partes do vírus. Então não existe nenhuma evidencia até o momento que essas vacinas não irão funcionar, e alguma vacinas como a própria Coronavac, que é contra o vírus completo, tem ainda uma proteção ainda maior para mutações. Então isso não é uma preocupação para esse momento”, explica Mogueira.
No Brasil, os cientistas sequenciaram mais de mil e quinhentas amostras do coronavírus e encontraram 40 linhagens diferentes circulando pelo país, mas nenhuma delas diz respeito às mudanças identificadas no Reino Unido, segundo uma plataforma online onde são compartilhados dados sobre a Covid-19.
“Aparentemente não teve uma expansão dessa mutação aqui ainda”, afirma Sabino.
Nova cepa
Na segunda-feira (14), o ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, disse que mais de mil casos de Covid-19 associados a uma nova variante do Sars-Cov-2 foram identificados na Inglaterra.
A Itália detectou, no domingo (20), o primeiro caso de infecção pela nova cepa do coronavírus identificada pela primeira vez no Reino Unido, que pode ser mais contagiosa. A descoberta aconteceu após o país decidir suspender voos vindos do Reino Unido.
O Ministério da Saúde italiano informou que a infecção pela nova cepa foi detectada em um paciente no hospital militar Celio, em Roma.
O paciente voltou há pouco tempo do Reino Unido. Ele e seus familiares estão em quarentena, segundo o comunicado.
O ministro das Relações Exteriores, Luigi di Maio, publicou um comunicado para falar sobre a suspensão de voos vindos do Reino Unido.
“O Reino Unido lançou um alerta sobre uma nova forma de Covid-19 que seria o resultado de uma mutação do vírus. Como governo, temos o dever de proteger os italianos e, por essa razão, vamos assinar com o ministro da Saúde um decreto para suspender os voos com o Reino Unido”.
Ele não especificou quando a medida entrará em vigor.
No sábado (19), o primeiro-ministro britânico Boris Johnson sobre o reconfinamento de Londres e partes do sudeste da Inglaterra até 30 de dezembro.
O líder britânico relacionou o aumento de casos de Covid-19 nessas áreas com a nova cepa do coronavírus descoberta por lá que, segundo ele, poderia ter até 70% mais infecciosa.
Por conta disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu aos seus membros europeus neste domingo para “reforçar seus controles”. (com dados do G1)