Mesmo depois do presidente Emmanuel Macron ter se negado a assinar o texto atual do acordo, agricultores franceses ameaçam impedir transporte de mercadorias em protestos contra o acordo Mercosul-UE.
O acordo visa estabelecer uma das maiores zonas de comércio livre do mundo, abrangendo 750 milhões de pessoas e cerca de um quinto da economia mundial. Mas, mesmo após 25 anos de negociações, o acordo de comércio livre Mercosul-UE continua a não ter o apoio unânime dos Estados-membros, uma vez que os receios quanto ao futuro do setor agrícola colidem com as necessidades estratégicas do bloco.
No sul da França, houve uma manifestação com mais de 100 pessoas que usaram caminhões para bloquear a fronteira com a Espanha. O ato foi liderado pela Coordenação Rural, segundo maior sindicato agrícola francês, que ameaça realizar ações mais duras se não obtiver garantias claras contra o acordo Mercosul-UE. “Vamos resistir no braço de ferro pelo tempo que for necessário”, assegurou a porta-voz do governo, Maud Bregeon. O acordo é negociado pela Comissão Europeia, mas depende da ratificação de todos os países envolvidos para entrar em vigor.
Em junho de 2019, foi alcançado um acordo político para abrir o comércio entre os 27 Estados-membros da UE e os quatro membros fundadores do bloco sul-americano, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Com isso, os agricultores europeus temem a concorrência de produtos agropecuários sul-americanos com preços mais competitivos.
No entanto, para a Europa, não são os ganhos econômicos que tornam o acordo mais atraente, mas sim o seu significado estratégico numa época em que o bloco enfrenta disputas comerciais com os seus dois maiores parceiros comerciais, os EUA e a China. “É um momento crítico. E com as potenciais tarifas americanas a entrarem em vigor já no próximo ano, penso que existe uma pressão acrescida para que a UE tente assinar um acordo”, disse Frances Li, analista da Economist Intelligence Unit, ao portal Euronews.
Em 2023, a maior parte das exportações do Mercosul para a UE foram alimentos e animais vivos (32,4 % do total das exportações) e produtos minerais (29,6 %). A abertura de rotas comerciais com os países do Mercosul daria à UE a possibilidade de diversificar as suas fontes de minerais críticos essenciais necessários para a construção de baterias e painéis solares e para a recolha de energia eólica e hidrogénio verde – para acelerar a transição ecológica. Atualmente, a fonte desses minerais para o bloco europeu é a China.
O acordo visa eliminar os taxas alfandegárias de todos os produtos industriais importados pela UE do bloco sul-americano. Entretanto, o Mercosul eliminaria apenas sobre 90% dos produtos industriais importados da UE, incluindo automóveis, maquinaria, equipamento informático, têxteis, chocolate e bebidas.
A França opõe-se firmemente ao acordo comercial pois as importações de carnes e açúcar criariam uma concorrência desleal, uma vez que os agricultores europeus suportam custos mais elevados devido à necessidade de respeitar as rigorosas normas europeias em matéria de segurança alimentar, bem-estar animal e ambiente e pagam salários mais elevados do que os dos agricultores sul-americanos.
A Comissão afirma que todos os acordos devem estar em conformidade com as normas sociais e ambientais da UE e que o acordo UE-Mercosul renova os compromissos das partes no Acordo de Paris, com um mecanismo de controle.
Entretanto, recentemente a Itália alegou que o documento “ainda possui alguns pontos controversos”, mas não se opõe à assinatura. “Acredito que no final se chegará a um acordo, mas não pode ser um que penalize as nossas empresas. Isso é tudo. Trata-se de trabalhar para encontrar a solução certa”, disse o vice-primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani.
(dados da Ansa, Euronews e RFI)