"Não se pode falar em café de qualidade, sem deixar de citá-lo", diz Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP). A torrefadora italiana é sócia, junto com a família Carvalhaes, da exportadora de grãos Porto de Santos Comércio e Exportação Ltda., sediada no litoral paulista.
"Illy mudou o relacionamento entre os produtores e a cadeia do café do Brasil", afirma Sylvia Saes, pesquisadora da equipe do Pensa (Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial da Universidade de São Paulo).
Precursor dos concursos de qualidade de café no país, o empresário apostou na melhoria do grão, quando o Brasil era conhecido internacionalmente apenas pela produção em abundância, mas sem se preocupar com a qualidade do produto. "Precisou vir um empresário de fora para mudar os rumos de negociação do grão voltado para a qualidade", lembra Sylvia Saes.
Em sua última entrevista ao Valor, publicada no dia 23 de novembro do ano passado, Illy disse que estava se dedicando ao estudo da memória. Todo ano era a mesma coisa. Illy estava sempre debruçado em estudos novos, de preferência na área de café. Dizia que a leitura era seu vício. "Não tenho televisão", disse uma vez em entrevista a este jornal em 2005. Quando não estava em viagem como embaixador do café, gostava de velejar com a família. Seus planos era voltar ao Brasil em março para divulgar os finalistas do concurso de qualidade de café, que realiza há 17 anos. Também participaria de palestra organizada pela Universidade Illy do Café, fundada por ele.
Formado em química pela Universidade de Bolonha, na Itália, o empresário assumiu a presidência do grupo em 1963, substituindo seu pai, Francesco Illy, fundador da torrefadora. Casado com Anna, deixou quatro filhos: Francesco, Riccardo, Anna e Andrea, que está na presidência da torrefadora desde 2005. Do Brasil, o grupo compra até 60%, ou cerca de 200 mil sacas de 60 quilos do grão, que compõem o café expresso da companhia.
Com faturamento anual de cerca de 280 milhões de euros, a illycaffé não é a maior torrefadora do mundo. E nem pretende ser. O empresário costumava dizer que o importante é vender um produto que agrade ao paladar. E consegue. São cerca de 6 milhões de xícaras vendidas diariamente. No ano passado, o grupo firmou parceria com a multinacional Coca-Cola para o desenvolvimento de uma bebida à base de café.
Relações públicas do grupo e à frente do comitê de promoção do café da Organização Internacional do Café (OIC), Illy costumava passar mais de 250 horas por ano em vôos internacionais para promover o produto pelo mundo. E conseguiu. "Illy já escreveu o nome dele na história", afirma Carvalhaes.