Editoriais
Ser italiano é algo transcendental. Ouvi essa máxima algumas vezes. E foram muitas. Independentemente de ter ou não um sobrenome italiano, o espírito do Belpaese está latente em praticamente todos os países, onde, em cada um deles, reinam culturas dos mais diversos matizes possíveis. Mesmo assim, um pouco ou muito da natureza italiana estará sempre presente nelas. Essa interferência, frise-se positiva, ajuda a construir um ethos que vem atravessando décadas… séculos. A Itália está para o mundo bem como o mundo está para a Itália. Via de mão dupla sempre. O gesto, a fala, o idioma, as artes, o cinema, a literatura, a música, a política… a alma e a paixão, seja ela por um clube de futebol e seu maior ídolo, por um escritor ou escritora, por um cantor ou cantora, por um ator ou atriz… um filme e seu icônico diretor (são muitos!). Por um santo ou santa católicos… por um amor devotado a uma companheira ou a um companheiro de toda uma trajetória, ombro a ombro, de mãos e braços entrelaçados. Italianos, acima de tudo, amam incondicionalmente o outro. Tudo que brota deles interfere no rumo da história, sobretudo e particularmente na vida de cada um de nós, descendentes ou não. É assim que funciona. A história (com suas infindáveis narrativas) está aí para provar. Chico Buarque, nosso poeta, escritor cantor e compositor, sente-se um pouco italiano. De certa forma confessa isso em seu novo livro, Bambino a Roma, que merece uma ampla reportagem nesta edição. Nossa repórter Roberta Gonçalves conversou com o crítico musical italiano Max De Tomassi, amigo de Chico, ouviu do professor de letras estrangeiras da USP Maurício Dias que o livro de Chico é “vida vivida”, onde o real e o ficcional se misturam. Mas é o escritor Silviano Santiago quem observa que narrar a experiência italiana de uma criança brasileira descendente de portugueses em outro país é também um diferencial do novo livro de Chico, que um dia foi “bambino”, “ragazzo”. A Itália está em Chico Buarque de Holanda. E fortemente enraizada em sua jornada artística. Toda essa sensação de italianidade latente em Chico é na mesma proporção em bilhões de pessoas ao redor do planeta, em centenas de países. Isso vem fazendo com que a própria tália comece a debater um possível novo rumo para a lei de cidadania no país. Alguns partidos de oposição, como Partido Democrata, +Europa, Aliança Verde e de Esquerda, propõem que seja reconhecida a cidadania italiana a todos os indivíduos nascidos na Itália, independentemente da nacionalidade dos pais. O esporte, principalmente o sucesso da Itália na Olimpíada de Paris, intensificou a discussão. Diversos atletas, como Paola Egonu, hoje considerada a melhor jogadora de vôlei do mundo, contribuem significativamente para o sucesso da Itália no cenário esportivo mundial. A história vitoriosa de cada um deles reforça a necessidade de uma reforma no arcabouço legal da cidadania italiana. Ser italiano é mesmo transcendental. Ser sensível a isso é demonstrar respeito a uma realidade que está além de qualquer ranço político e ideológico. Mais uma vez a Itália pode ensinar ao mundo o que significa alteridade e respeito.
Boa leitura!