Investigação mostrou que cabos de carga de um dos pilares estavam corroídos por falta de manutenção adequada
A juiza italiana Paola Faggioni ordenou, na quinta-feira (7), que 59 pessoas sejam julgadas pelo desabamento de uma ponte em Gênova, há quatro anos, que deixou 43 mortos. O julgamento está marcado para começar em 7 de julho.
A ponte, operada pela Autostrade per l’Italia, unidade rodoviária da Atlantia, desabou na cidade portuária em 14 de agosto de 2018. Paola Vicini, mãe de uma das vítimas, chorou do lado de fora do tribunal.
“Para as famílias das outras vítimas, eu digo que tenham força e coragem, e faremos justiça”, disse ela.
A juíza Faggioni, ao fim de uma audiência preliminar a portas fechadas que começou em outubro passado, também aceitou o acordo proposto pela Autostrade e sua empresa irmã Spea para encerrar o caso.
A Autostrade ofereceu pagar 1 milhão de euros (R$ 5,16 milhões) como acordo e 26 milhões de euros (R$ 134 milhões) em compensação ao Estado italiano pelo caso, enquanto a Spea propôs pagar 810 mil euros (R$ 4.180) pelo acordo.
Em um documento sobre as descobertas da investigação, os promotores disseram no ano passado que o colapso foi desencadeado pela ruptura dos cabos de carga dentro do nono pilar da ponte, que foram corroídos ao longo dos 51 anos de vida da ponte.
Os gerentes das unidades Atlantia Autostrade e Spea teriam evitado vistorias adequadas do estado da infraestrutura e, por isso, deixaram de corrigir problemas graves que começaram a surgir apenas alguns anos após a abertura do viaduto, em 1967, segundo o documento.
Muito antes do desabamento, especialistas já alertavam que a estrutura da ponte estava se deteriorando e representava perigo.
“Esta ponte é um fracasso em termos de engenharia”, disse em 2016 Antonio Brencich, professor de engenharia da Universidade de Gênova, numa entrevista à TV Primocanale.
Em 2018, logo após o acidente, Brencich reafirmou o resultado de sua análise em nova entrevista à TV Rai.
“A corrosão e a degradação ocorreram a uma velocidade impensável. Pontes bem projetadas costumam durar cem anos e só então passam a precisar de manutenção, não depois de apenas 40 anos”, comentou.
Em 2012, Giovanni Calvini, então líder da associação comercial da cidade, já advertia que havia risco de desabamento da estrutura dentro de dez anos, sendo necessária a substituição da ponte.
Em junho passado, os promotores italianos pediram que a Autostrade, a Spea e 59 indivíduos fossem julgados, mas, com o acordo, as empresas não estarão mais envolvidas no caso.
Os indivíduos, Autostrade e Spea alegaram inocência sobre o colapso da ponte. O acordo não envolve qualquer reconhecimento de irregularidades por parte das duas empresas. Ex-CEO da Atlantia, Giovanni Castellucci está no grupo de 59 pessoas que irão a julgamento.
O colapso causou uma disputa entre a Atlantia e o governo que terminou em junho passado, com a venda do controle da Atlantia na Autostrade para o credor estatal Cassa Depositi e Prestiti (CDP) e empresas de investimento. (com dados da Reuters)