Juíza determina soltura de dois suspeitos de queda de teleférico na Itália

Uma juíza italiana determinou no sábado (29) a soltura de dois dos três suspeitos do acidente que matou 14 pessoas em um teleférico na região do Piemonte, norte do país, há uma semana. Gabriele Tadini, chefe de serviço do teleférico de Stresa-Mottarone, Enrico Perocchi, diretor da estrutura, e Luigi Nerini, gestor da empresa Ferrovie del Mottarone, estavam presos desde a última quarta (26), mas somente o primeiro continuará privado de liberdade, só que em regime domiciliar.
A decisão foi tomada pela juíza de inquérito preliminar Donatella Banci Buonamici, que ouviu os depoimentos dos três suspeitos na penitenciária de Verbania e determinou que não há elementos probatórios para manter Perocchi e Nerini em prisão preventiva.
O Ministério Público pedia a manutenção da medida cautelar contra os três suspeitos, alegando risco de fuga e de destruição de provas.
Troca de acusações
Em seu primeiro depoimento aos investigadores, Tadini confessou ter deixado uma espécie de “garfo” que bloqueava os freios de emergência do teleférico, ação que, segundo ele, contava com a anuência de Nerini e Perocchi.
O teor do depoimento foi confirmado por Tadini perante a juíza Buonamici no sábado, e o chefe de serviço ainda disse que os “garfos” haviam sido deixados no sistema de freios emergenciais em outras ocasiões para evitar o bloqueio do teleférico para manutenção, sempre com a concordância dos outros dois suspeitos.
Devido à presença desses “garfos”, os freios de emergência não foram acionados quando o cabo de tração do teleférico se rompeu. “Carregarei esse peso por toda a minha vida, estou destruído porque morreram vítimas inocentes”, disse Tadini, segundo seu advogado, Marcello Perillo.
“Não sou um delinquente. Nunca teria deixado as pessoas subirem se pensasse que o cabo poderia se romper”, acrescentou o suspeito.
A versão de Tadini, no entanto, foi rebatida por Perocchi em seu depoimento. “A decisão de utilizar os garfos foi uma escolha perversa de Tadini”, declarou o diretor do teleférico, de acordo com o advogado Andrea Da Prato. Segundo Perocchi, ele não sabia do uso dos garfos que bloqueavam os freios de emergência.
Nerini, por sua vez, foi o último a depor e disse que a segurança do teleférico era responsabilidade dos outros dois. “Por lei, Tadini e Perocchi tinham que se ocupar disso”, declarou o administrador da linha, acrescentando que a ele cabiam os aspectos “de negócios” da empresa.
“Eu não tinha nenhum interesse em não fazer a manutenção do teleférico”, ressaltou Nerini.
O Ministério Público também apura os motivos que provocaram o rompimento do cabo de tração, o que fez a cabine recuar em alta velocidade e se chocar contra um pilar da estrutura, caindo em seguida de uma altura de 20 metros e deslizando montanha abaixo até parar em um bosque.
Dos 15 passageiros a bordo, apenas um sobreviveu, o menino Eitan, de cinco anos de idade e que ainda está internado em um hospital de Turim. O, que garoto perdeu os pais, um irmão e os bisavós maternos na tragédia, apresentou uma melhora no hospital neste domingo (30) e voltou a comer por conta própria.
“As condições de Eitan apresentam melhora significativa”, diz um boletim do Hospital Infantil Regina Margherita, de Turim. O menino segue internado na UTI por precaução e é acompanhado por uma tia e por uma avó que chegou de Israel nos últimos dias. (com dados da Ansa)