Uma grande disputa política foi iniciada no domingo (19) na Itália após o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Fabio Rampelli, parlamentar o partido de direita Irmãos da Itália (FdI), da premiê Giorgia Meloni, afirmar que alguns homossexuais “estavam se fazendo passar por pais”. A declaração foi dada depois que uma multidão fez um protesto em Milão no último sábado (18) para defender o direito das famílias da comunidade LGBTQIA+.
Batizada de “Tirem as mãos de nossos filhos e filhas”, a manifestação acontece na Piazza della Scala, em frente à sede da prefeitura de Milão, e foi convocada pelas associações LGBTQIA+.
Durante o protesto, o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, que a princípio havia dito que não participaria do ato, apareceu surpreendentemente na praça. “Estou sempre com vocês, estou desde o primeiro momento”, declarou ele.
A mobilização também contou com a presença de Elly Schlein, secretária do Partido Democrático (PD), maior legenda de esquerda do país, além da líder do PD no Senado, Simona Malpezzi, e do secretário de cultura de Milão, Tommaso Sacchi.
“É uma praça bonita que clama e pede direitos. Milão fez a sua parte”, disse Sacchi, em referência aos 10 mil manifestantes que saíram às ruas.
No encontro na Piazza della Scala todos os participantes foram convidados a levar canetas esferográficas para serem erguidas no ar durante um flashmob para pedir direitos a todos, principalmente para os filhos de casais do mesmo sexo.
As canetas “representam as assinaturas que não podem mais ser feitas”, explicou o fundador do “I Sentinelli” Luca Paladini, enfatizando que todos têm “um problema enorme representado por esse governo”.
A manifestação foi organizada após o governo nacional pressionar a prefeitura de Milão a interromper o registro de crianças nascidas no exterior filhas de genitores homossexuais e que foram geradas por meios de reprodução medicamente assistidas.
De acordo com o Ministério do Interior da Itália, é ilegal emitir certidões de nascimento de crianças estrangeiras concebidas por barriga de aluguel. No caso de terem sido geradas por fertilidade assistida, a medida só é permitida para casas heterossexuais.
“Se duas pessoas do mesmo sexo solicitam que uma criança que estão passando como sua seja registrada no registro cívico, isso significa que fizeram uma barriga de aluguel fora das fronteiras nacionais”, declarou Rampelli à TV La7.
Para Pina Picierno, do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, os comentários de Rampelli foram “desagradáveis”. “Reacionários violentos estão se passando por políticos dignos do governo do país”, acrescentou.
Por sua vez, a ministra da Família, Natalidade e Igualdade de Oportunidades, Eugenia Roccella, disse que era falso argumentar que os filhos de pais do mesmo sexo estavam recebendo tratamento de segunda linha.
“Não há negação dos direitos das crianças”, disse Roccella à Rai. “Todos têm os mesmos direitos na Itália”.
Ela acrescentou que, embora não concordasse com as palavras que Rampelli havia usado, o conceito estava correto.
“Você tem que declarar uma série de coisas no registro civil e, se você disser que dois pais são ambos os pais, você está dizendo algo que não é verdade”, explicou Roccella, acrescentando que considerava a barriga de aluguel um “mercado de crianças”. (com dados de agências internacionais)