“Vista eterna para a natureza” é o que diz o anúncio do Reserva Golf Residence, empreendimento da incorporadora Ekko Group que inclui duas torres de apartamentos de alto padrão e um shopping na Vila São Francisco, em Osasco, próximo à divisa com São Paulo. O empreendimento quer ocupar uma área do São Francisco Golf Club, fundado pelo Conde Luiz Eduardo Matarazzo nos anos 1930. O local pertencia a uma chácara, que servia para lazer e criar búfalos, mas hoje é uma reserva que há trechos de floresta protegidos por legislação estadual, municipal e federal, por conterem nascentes, o que as configura área de preservação permanente. Formada por mais de 30 condomínios, a associações de moradores da região defende que o tombamento é um reforço à proteção legal.
A incorporadora Ekko diz seguir a legislação ambiental e prever contrapartidas, como a criação de um parque linear e o plantio de 20 mil mudas. Também afirma que irá manter 85% de área verde preservada. Mas, protocolado em 2022, o projeto ainda não teve aprovação da prefeitura de Osasco, por haver duas ações civis públicas e uma ação popular na 6ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo, além pedido de tombamento no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). Uma liminar suspendeu o corte de árvores e as obras na propriedade.
Além do patrimônio natural, a propriedade de aproximadamente 340 mil m² têm edificações históricas, como a sede do Golf Club e a casa de campo do escultor Victor Brecheret, tombada desde 2012 pelo Condephaat. Nela, estão os afrescos “São Francisco” e “Três Graças”, feitos por ele. Por isso a associação pede o tombamento.
A Companhia São Francisco de Administração e Comércio, que representa a família Matarazzo, afirmou que ao longo das gerações a manutenção das áreas sempre foi feita no intuito de conservar um bairro verde. Ainda acrescentaram que o empreendimento “prevê a edificação de residências integradas ao paisagismo local que, trabalhando conservadoramente dentro dos limites impostos pela legislação” traz “amplos benefícios à comunidade”. Foi citada a preservação de cerca de 280 mil m² de área verde, um novo parque e o plantio de árvores nativas, que estão entre as contrapartidas previstas pela Ekko.
Um dos principais argumentos da Avive contra a construção de um grande número de edifícios altos no local é que a vegetação da Vila São Francisco desempenha a função de corredor ecológico, que conecta áreas remanescentes de Mata Atlântica e parques da região metropolitana, como a Reserva do Morro Grande, o Parque Estadual Jequitibá, a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde e o Instituto Butantã, numa continuidade que chega até os parques Burle Marx e Ibirapuera. A conectividade entre essas áreas é citada em parecer encomendado pela Avive à consultoria Dimensão Ambiental e reforça porque os vizinhos temem que o adensamento urbano prejudique a mata.