Estudo aponta que expectativa de vida no norte da Itália pode cair 2 anos devido à pandemia

Em províncias mais afetadas, queda pode ser de 5 anos
Uma pesquisa divulgada nesta pelo Instituto de Estatísticas Italiano (Istat) mostrou que o norte da Itália pode ter uma redução de dois anos na expectativa de vida como um dos efeitos da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), passando dos atuais 84 para 82 anos em média.
A região foi a mais afetada pela doença, concentrando a maior parte tanto das infecções como de óbitos pela Covid-19. Para chegar à conclusão, os especialistas da entidade, incluindo seu presidente, o demógrafo Gian Carlo Blangiardo, criaram oito cenários para o país pós-pandemia e compararam com os dados de 2018. Os dois anos a menos foram registrados no cenário considerado “moderado”, ou seja, os números podem ser piores ou melhores se analisados os cenários extremos, e considerando duas análises: a esperança de vida ao nascer e a após os 65 anos.
“No que tange à expectativa de vida no nascimento, assiste-se a um redimensionamento significativamente mais evidente nas províncias do norte. Em particular, naquelas majoritariamente afetadas pela Covid-19, sobretudo no noroeste e ao longo da cordilheira dos Apeninos, se passaria a ter uma esperança de vida ao nascer de quase 84 anos para cerca de 82 anos”, diz o documento divulgado pelo Istat.
Para os especialistas, esse efeito é “decisivamente menor” nas províncias do centro e do sul da Itália, mas a entidade ressalta que, em algumas delas, especialmente na Sicília, há até a possibilidade de melhorar a expectativa.
O relatório ainda aponta que as “criticidades mais claras e evidentes” aparecem quando se restringe a atenção para a esperança de vida de pessoas de 65 anos. “Em particular, em todas as províncias do Norte e parte daquelas do Centro, um indivíduo de 65 anos poderia esperar viver, na época pré-Covid, por mais 21 anos (em média); enquanto agora, com os efeitos devidos a pandemia, tal duração – fazendo referência ao cenário intermediário ‘moderado’ – cairia para cerca de 19 anos”, informa a entidade.
As 10 províncias que lideram o ranking da redução de expectativa nas duas situações – ao nascer e depois dos 65 anos – são, pela ordem, Bergamo, Cremona, Lodi, Brescia, Piacenza, Parma, Lecco, Pavia, Mântua e Monza e Brianza.
Segundo o documento, as duas províncias mais afetadas – Bergamo e Cremona – tem cenários ainda piores mesmo no cenário moderado. “Elas mostram uma redução de esperança de vida no nascimento que resulta superior a cinco anos; redução que em Bergamo chega a atingir os seis anos se a medida for o 65º aniversário”, diz o relatório.
Bergamo tornou-se um símbolo triste da pandemia do coronavírus na Itália, com a imagem de caminhões do exército enfileirados esperando por corpos das vítimas da doença no país, no ápice da crise sanitária. A província também é a 4ª mais afetada do país, com 14.065 casos da doença, atrás de Milão, Turim e Brescia.
O Istat ainda fez uma análise sobre essas variações considerando a expectativa de vida que havia sido prevista em estudos anteriores que, obviamente, não consideravam uma pandemia neste ano. E os números são ainda mais impactantes.
“Para alguns territórios, voltamos para índices de cerca de 20 anos atrás, como no caso de Bergamo – onde a esperança de vida aqui estimada equivale àquela prevista no longínquo ano de 2000 – ou em Cremona (onde é preciso voltar para 2003), enquanto em outras províncias, quase todas no norte, o retorno ao passado, mesmo que não chegue aos 20 anos, é comumente superior a uma década”, pontua.
A Itália é um dos países com a maior quantidade de idosos no mundo e vinha, sucessivamente, ampliando sua expectativa de vida nos últimos anos. Para se ter ideia, em julho do ano passado, o país se juntou à França como as nações europeias que mais têm idosos centenários.
Por outro lado, segundo o Instituto Superior de Saúde (ISS), órgão ligado ao governo italiano, a idade média das vítimas e das pessoas infectadas pela Covid-19 no país é de 80 anos, segundo relatório divulgado na última quinta-feira (18). Se considerados só os falecimentos, a idade média é de 82 anos.
Ao todo, a Itália contabiliza 238.499 casos do novo coronavírus com 34.634 mortes e 182.839 curados. (Ansa)