Início » Consulado italiano coloca imóvel da Casa d’Itália em Juiz de Fora a leilão

Consulado italiano coloca imóvel da Casa d’Itália em Juiz de Fora a leilão

03 de outubro de 2020 - Por Comunità Italiana
Consulado italiano coloca imóvel da Casa d’Itália em Juiz de Fora a leilão

Para Paulo José Monteiro de Barros, situação coloca em risco a preservação da cultura italiana na cidade. Imóvel de 80 anos, foi fundado por imigrantes, pertence ao Estado Italiano e está avaliado em R$ 19,5 milhõés

O Consulado da Itália em Belo Horizonte publicou na última quarta-feira (30) o aviso de leilão de um dos bens mais antigos e preservados de Juiz de Fora: a Casa d’Itália, na Avenida Rio Branco. O documento, assinado pelo cônsul Dário Savarese, surpreendeu o presidente da associação, Paulo José Monteiro de Barros, e a comunidade de descendentes de imigrantes italianos na cidade. 

“Na terça-feira (29), recebemos uma notificação extrajudicial, de despejo, para entregar a Casa em 30 dias. Não fomos avisados. Foi um choque, deixou a gente muito indignado. No dia seguinte, já estava no site o aviso do leilão. Fomos pegos de surpresa”, contou Paulo ao portal G1.

No papel, a propriedade de 3.309m² pertence ao Estado Italiano e, por isso, a decisão de venda do imóvel ocorreu através da representação do consulado. Entretanto, o presidente da Casa D’Itália defende que o local pertence a comunidade de imigrantes de Juiz de Fora. 

O leilão da propriedade, marcado para o dia 3 de dezembro, significa que o espaço criado para celebrar e guardar a cultura e memória italiana há 80 anos pode deixar de existir. Para entender essa história, a reportagem do G1 conversou com Paulo José Monteiro de Barros e também procurou o Consulado da Itália em Belo Horizonte. Veja abaixo.

Espaço criado para os imigrantes 

De acordo com Paulo e com o arquivo histórico de bens tombados da Prefeitura, o terreno na Avenida Rio Branco foi adquirido em outubro de 1933 pelos italianos que imigraram para Juiz de Fora . A construção começou em 1936 e a inauguração ocorreu em 4 de novembro de 1939. 

“Em 1933, os imigrantes compraram esse terreno para construção de uma casa que representasse o pedacinho da Itália em Juiz de Fora. A construção foi edificada com dinheiro deles. Existe uma cláusula, que o local é pra uso exclusivo de italianos e seus descendentes, para educação, cultura, lazer, gastronomia, esporte e até funcionamento como hospital. A Casa foi colocada em nome do Governo Italiano para que, no futuro, nenhum proprietário pudesse vende-la”, explicou o presidente. 

Os registros históricos mostram que a Itália, na época comandada pelo governo fascista de Benito Mussolini, contribuiu com 50 contos de réis e enviou os mármores com símbolos do regime e o letreiro utilizado na fachada “Domvs Italica”. Conforme Monteiro, o valor da construção da Casa d’Itália, que foi feita em estilo Art Deco pela Companhia Construtora Pantaleone Arcuri, foi cerca de 400 contos de réis. 

No aviso do leilão, o Consulado Italiano informou que a propriedade vale R$ 19,5 milhões. Ainda há outro terreno que será leiloado, um espaço de 245 m² na Rua Henrique Surerus, que foi desmembrado da Casa d’Itália no passado e hoje abriga uma oficina mecânica. Este segundo imóvel foi avaliado em R$ 1,51 milhão.

O presidente da instituição afirmou ao G1 que irá tomar medidas jurídicas para a manutenção da casa e do espaço, mas que “parece não haver negociação” com o consulado. 

A reportagem procurou o consulado em Belo Horizonte, responsável pelo leilão. Em nota, o cônsul da Itália em Belo Horizonte, Dário Savarese, informou que “não dará entrevistas e não tem comentários a fazer, pois tratam-se de questões jurídico-administrativas, onde o Consulado está seguindo instruções ministeriais”.

Prédio da Casa d'Itália em 1939, quando foi inaugurado em Juiz de Fora — Foto: Márcio Arcuri/Arquivo Pessoal
Prédio da Casa d’Itália em 1939, quando foi inaugurado em Juiz de Fora — Foto: Márcio Arcuri/Arquivo Pessoal 

‘Estão esmagando a cultura italiana’

Paulo Monteiro lembrou a função social da casa e a missão de divulgar a cultura italiana em todos os aspectos: a capela de San Francesco di Paola; a agência consular, vinculada ao Consulado da Itália de Belo Horizonte; curso de língua italiana “Cultura Italiana”, grupo de dança folclórica italiana Tarantolato, o curso de pizza da Associazione Verace Pizza Napoletana, entre diversas outras atividades.

O presidente da Casa d’Itália também contou que o local ajuda entidades, associações infantis e para idosos de Juiz de Fora, com doações e também enviou ajuda à tragédias que ocorreram em Minas Gerais, como rompimento de barragens em Mariana e Brumadinho. 

A instituição também enviou ajuda financeira a italianos durante um terremoto em 2012, que devastou a região da Emilia-Romagna, no norte da Itália. 

Para a instituição, é incerto o futuro das operações, as ajudas humanitárias e a preservação da cultura italiana na cidade. “Ao tentar vendar a Casa d’Itália, estão esmagando a cultura italiana. É como se fossemos apagados do mapa. É tudo o que temos na cidade, tudo esta aqui. Foi uma comunidade muito forte que construiu essa herança forte”, avaliou Paulo. 

Leilão em dezembro

O leilão, marcado para 3 de dezembro, foi afixado no valor mínimo de R$ 21 milhões para as duas propriedades – a Casa d’Itália e o imóvel na Henrique Surerus. A venda dos imóveis não pode ser feita de forma separada. 

Sobre a permanência da instituição e continuação das atividades promovidas pela Casa d’Itália, o consulado determinou que a situação será tratada com o novo proprietário, que pode ou não aceitar que o local funcione da forma que está.

“Atualmente os imóveis estão ocupados por terceiros, situação que deverá ser tratada segundo o interesse do futuro adquirente”, afirmou o cônsul Dário Savarese no documento. 

Para cada concorrente ser admitido no leilão, deverá pagar um caução provisório de 10%, no valor de R$ 2, 1 milhões. Outras informações podem ser encontradas na internet. (G1)

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.

Leia também outras matérias da nossa revista.



Comentários