Começou na última quinta-feira (7), na cidade italiana de Gênova, o julgamento de 59 réus acusados de responsabilidade na queda da Ponte Morandi que matou 43 pessoas em agosto de 2018. Entre os processados estão diversos ex-dirigentes da empresa Autostrade per l’Italia (Aspi), que detinha a concessão da ponte e era controlada pela família Benetton, mas foi reestatizada pelo governo italiano por causa da tragédia, e da Spea, companhia contratada para fazer a manutenção da via.
A lista de réus inclui o ex-CEO da Aspi Giovanni Castellucci e o ex-diretor de manutenções Michele Donferri Mitelli. O Ministério Público acusa essas 59 pessoas por crimes como múltiplo homicídio culposo (quando não há intenção de cometer o delito), homicídio rodoviário, atentado à segurança dos transportes, desabamento doloso (quando há intenção) e omissão.
Também respondem ao processo atuais e ex-funcionários do Ministério da Infraestrutura da Itália. A Aspi e a Spea eram alvos do inquérito, mas fizeram um acordo para pagar 30 milhões de euros e encerrar o caso.
A primeira audiência do processo foi apenas protocolar e não pôde ser filmada por câmeras de televisão. “A queda da Ponte Morandi foi um evento que chacoalhou não apenas nosso país, mas todo o mundo. Não estamos diante de fatos íntimos, mas sim de responsabilidades públicas, então não é aceitável que um processo assim seja encoberto”, criticou o presidente da Ordem Nacional dos Jornalistas, Carlo Bartoli.
A próxima sessão está marcada para 12 de setembro, e o Tribunal de Gênova agendou audiências até julho do ano que vem.
“Esperamos que o processo esclareça as causas e as culpas que levaram à morte de nossos familiares; do contrário, as mortes dos nossos entes queridos terão sido inúteis, e eles não poderão descansar em paz”, disse Egle Possetti, presidente do comitê de parentes das vítimas da tragédia.
Corrosão
Uma perícia divulgada em dezembro de 2020 concluiu que o desabamento foi provocado pela corrosão em um dos cabos de sustentação da ponte. O relatório aponta que o desastre poderia ter sido evitado se “os controles e manutenções tivessem sido feitos corretamente”.
A Ponte Morandi havia sido inaugurada em 1967 e consistia em uma estrutura estaiada, mas com as vias suspensas por tirantes de concreto, e não de aço, como é mais comum.
De acordo com os peritos, o processo de corrosão na armadura do tirante que causou a tragédia teve início logo nos “primeiros anos de vida da ponte” e progrediu de maneira ininterrupta até o desabamento.
A substituta da Ponte Morandi foi inaugurada em agosto de 2020, com projeto do premiado arquiteto Renzo Piano, ao custo de 200 milhões de euros, valor bancado por um consórcio público-privado. (com dados da Ansa)