Associação faz abaixo-assinado contra leilão da Casa d’Itália em Juiz de Fora

Consulado Italiano em Belo Horizonte publicou na última semana o edital de leilão do imóvel, avaliado em R$ 19,5 milhões. Espaço foi fundado há mais de 80 anos por imigrantes italianos que vieram para a cidade
A Associação Ítalo Brasileira San Francesco di Paola, mantenedora da Casa d’Itália em Juiz de Fora, fez um abaixo-assinado contra o leilão do imóvel pelo Consulado Italiano em Belo Horizonte. O manifesto virtual foi criado há três dias e, nesta terça-feira (6), contabiliza mais de 6.600 assinaturas, sendo que a meta estipulada pela instituição é de 7.500.
Na última sexta-feira (2) dois imóveis, avaliados em um total de R$ 21 milhões, foram colocados a leilão pelo Estado Italiano. A medida foi repudiada pelo presidente da instituição, Paulo José Monteiro de Barros, e pela comunidade de descendentes italianos da cidade, que afirmaram surpresa na decisão e falta de diálogo com o Consulado.
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Neste abaixo-assinado, a associação pede ao ministro das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional em Roma, Luigi di Maio, e o subsecretário-geral que responde sobre a América Latina, Ricardo Merlo, que se manifestem a favor da causa e suspendam o leilão. Veja a íntegra da nota abaixo.
“Nós, abaixo assinados, cidadãos italianos, brasileiros e ítalo-descendentes, por meio deste apelo, vimos expressar o nosso repúdio à atitude do Estado Italiano que, através do Consulado da Itália em Belo Horizonte, decidiu leiloar o prédio histórico da Casa D’Italia. Trata-se de um edifício tombado como patrimônio do município de Juiz de Fora, devido à sua importância histórica e cultural para a cidade e para toda a coletividade ítalo-descendente. Desapropriar o imóvel e vendê-lo significa apagar a história de um povo que com todo esforço construiu esta Casa há 80 anos e a mantém viva até os dias de hoje. Pedimos ao Sr. Ministro das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional, Luigi Di Maio, em Roma – Itália, e ao Subsecretário Geral com responsabilidade sobre a América Latina, Ricardo Merlo, que se manifestem em favor desta causa, suspendendo o leilão, em respeito e consideração à história dos imigrantes italianos que tanto contribuíram para preservar suas raízes e divulgar a cultura italiana no Brasil.”
Além do abaixo-assinado, a Casa d’Itália reuniu nas redes sociais, vídeos de moradores da cidade, membros da comunidade italiana, artistas, historiadores, músicos e outras personalidades que se manifestaram contra o leilão e em solidariedade à Associação Ítalo Brasileira San Francesco di Paola.
Leilão em dezembro
O leilão, marcado para 3 de dezembro, foi afixado no valor mínimo de R$ 21 milhões para duas propriedades – a Casa d’Itália e o imóvel na Rua Henrique Surerus. A venda dos imóveis não pode ser feita de forma separada.
A propriedade de 3.309 m² foi avaliada em R$19,5 milhões, pertence ao Estado Italiano e, por isso, a decisão de venda do imóvel ocorreu através da representação do consulado. Entretanto, o presidente da Casa D’Itália defende que o local é da a comunidade de imigrantes de Juiz de Fora.
Segundo o porta de notícias G1, o presidente da associação informou que não houve diálogo com o Consulado Italiano. “Na terça-feira (29), recebemos uma notificação extrajudicial, de despejo, para entregar a Casa em 30 dias. Não fomos avisados. Foi um choque, deixou a gente muito indignado. No dia seguinte, já estava no site o aviso do leilão. Fomos pegos de surpresa”, contou Paulo José Monteiro de Barros.
Em nota, o cônsul da Itália em Belo Horizonte, Dário Savarese, informou que “não dará entrevistas e não tem comentários a fazer, pois tratam-se de questões jurídico-administrativas, onde o Consulado está seguindo instruções ministeriais”.
Casa d’Itália
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O terreno na Avenida Rio Branco foi adquirido em outubro de 1933 pelos italianos que imigraram para Juiz de Fora . A construção começou em 1936 e a inauguração ocorreu em 4 de novembro de 1939.
“Em 1933, os imigrantes compraram esse terreno para construção de uma casa que representasse o pedacinho da Itália em Juiz de Fora. A construção foi edificada com dinheiro deles. Existe uma cláusula, que o local é pra uso exclusivo de italianos e seus descendentes, para educação, cultura, lazer, gastronomia, esporte e até funcionamento como hospital. A Casa foi colocada em nome do Governo Italiano para que, no futuro, nenhum proprietário pudesse vende-la”, explicou o presidente.
O local abriga diversas atividades que celebram a cultura italiana: a capela de San Francesco di Paola; a agência consular, vinculada ao Consulado da Itália de Belo Horizonte; curso de língua italiana “Cultura Italiana”, grupo de dança folclórica italiana Tarantolato, o curso de pizza da Associazione Verace Pizza Napoletana, entre diversas outras atividades. (dados do G1)